Fundador


ENSINAMENTOS ESPIRITUAIS DE MARELLO

Abandono em Deus
São José Marello, Apóstolo da Juventude
As inquietações, tenhamos claro em nossa mente, são sempre da "parte do demônio". Renovemos o espírito a cada momento e descansemos na misericórdia do Senhor, que absorve todas as debilidade de nossa natureza enferma.
Lhe direi unicamente que reafirme a cada momento a confiança no bom Deus, e fique seguro, por que às vezes ele nos nega os consolos do espírito, mas não nos retira a resignação à sua vontade, que é a raiz de todo nosso mérito.
Coragem! Abaixa a cabeça e segue em frente.
Bendito seja Deus que faz fecundar os campos... e seja duas vezes bendito quando castigando os pecados, desperta também nos corações a fé e a piedade.
Chegar a um povoado no momento em que uma terrível flagelo (o granizo) detrói as melhores esperanças e ver no rostos as imagens da resignação cristã e encontrar vontades dobrada à vontade do Senhor e os corações abertos a esperanças imortais... Oh espetáculo comovedor e cheio de edificação.
Seja dócil às inspiraçõs do Espírito Santo, deixando-se conduzir por Ele em todas as coisas. diga ao Senhor: "Eu sou todo teu e não tenho outro desejo senão de que se cumpra tua santa vontade, ainda que a custa de sacrifícios, e privado de consolos, também cheio de aflições; estou pronto para tudo, ó Senhor: faze de mim o que quizeres".
Deus vela sobre nós com a mais terna solicitude.
O abandono total na Providência constitui o mais alto grau da perfeição.

Homem de seu tempo

São José Marello foi um homem do seu tempo, pensou e sentiu e, partindo daí, viveu conforme avaliou ser necessário. Na segunda metade do século 19 o norte da Itália era uma terra difícil para quem tinha fé. A oposição aos valores religiosos e às próprias expressões religiosas era uma constante. A sociedade convivia com a religião, mas a cultura a deixava de lado, o governo não considerava seus valores e, com isso, sua expressão ia aos poucos se reduzindo aos interiores das Igrejas.

Uma situação difícil de entendermos hoje é que, naqueles tempos, não existia em naquela região a vida religiosa. Irmãos e Irmãs, consagrados a Deus pelos votos religiosos, simplesmente não faziam parte do panorama da Igreja. Aliás, em toda a Europa o que existia era uma oposição, se não explícita pelo menos velada a tudo o que se referia à Igreja. A efervescência do positivismo e do marxismo começava em diversos lugares e neles a posição histórica da Igreja era questionada ou ela própria era negada, quando não combatida frontalmente.

Às vezes achamos que a indiferença religiosa ou a oposição à Igreja é coisa moderna, dos nossos anos… Engano! Era naquele tempo uma realidade que fazia vítimas os que hoje também o são: as gerações mais novas. As crianças até os jovens viam os valores se diluir em mudanças sociais e novos modelos de ser e de agir. Bem como hoje, quando muitos rapazes e meninas sentem-se quase que “fora do mundo” quando tentam viver uma genuína experiência de Deus.

Padre José Marello, atento observador de sua realidade e sincero cristão, de fé clara e dedicada à vocação que recebeu, sentia estas situações e deu uma resposta que, dentro de sua realidade e possibilidades parecia ser a melhor. Com a criação dos Oblatos de São José ele tentou oferecer à Igreja de sua Diocese, Asti, uma solução. A princípio ele nem pensou em fazer uma Congregação religiosa, mas apenas reunir cristãos sinceros e fiéis para ser “oblatos”, gente que se oferece (este é o sentido da palavra “oblato”) para o serviço em nome de Deus na Igreja. Onde e como for necessário.

Eles se aplicaram primeiramente à formação cristã dos operários, depois à educação e catequização de crianças e jovens e, logo a seguir, ao atendimento aos enfermos e idosos abandonados. Na realidade eles se dedicaram às necessidades mais urgentes, às pessoas das quais ninguém se lembrava e que, na sociedade, incomodam pois são um obstáculo.

Hoje também temos situações semelhantes àquelas, talvez mais desafiadoras e com uma amplitude maior, mas são muito próximas das que viveu Padre Marello.


 Espiritualidade e santidade


 Espiritualidade não é “momento de oração”. Às vezes, em alguns encontros e circunstâncias, ouve-se: “Vamos fazer agora a espiritualidade!”. Parece que é um momento separado dos outros, algo que acontece com início, meio e fim. Não é isto espiritualidade. Um momento de oração, um salmo cantado ou orado, uma sequência de preces ou uma celebração eucarística não são “espiritualidades”. Espiritualidade é algo maior: é o estilo de ser, sentir, olhar, viver, sonhar, lutar, buscar, alegrar, chorar e, entre tantos outros verbos que podem definir a espiritualidade, ela é sobretudo o jeito de crer e experimentar a fé. Desta forma não é algo separado, isolado dos demais elementos da vida ou de um determinado encontro. Alguns que lêem estas linhas percebem que espiritualidade tem muito a ver com “mística”. De fato os dois conceitos estão na mesma linha.


Quando se fala da “espiritualidade de São José Marello” não se trata de quais orações ele fazia e em quais momentos. Claro que suas preces e o tempo que ele utilizada para fazê-las são elementos importantes. Eles mostram um pouco o jeito de José Marello vivenciar sua fé e apresentá-la a quem o cercava.
Mas a espiritualidade de São José Marello é mais do que um conjunto de orações que ele fazia freqüentemente — é o seu jeito de buscar a Deus e torná-lo presente em suas ações. Sim, o Marello, como todos os homens e mulheres santos, tornava presente, na sua vida e na vida das pessoas, Deus em sua bondade e misericórdia. É isto que os Santos fazem ser notado: a santidade de Deus. Por isso eles são santos! Porque demonstram na vida e na história pessoal a identidade de Deus, a santidade. Ora, espiritualidade é o modo de viver a santidade que Deus dá a quem o busca e que é partilhada por quem a tem.
José Marello tinha a santidade pois vivia sob os olhos do Senhor. Todos vivem sob os olhos de Deus, mas nem todos têm esta consciência. Ela acontece no interior de quem se deixar despertar para a graça, a amizade com Deus. Pode-se viver anos e mais anos no sopé de uma grande e linda montanha, ou muito próximo a uma praia magnífica, mas nunca subir a montanha para descobrir trilhas, ver animais, insetos e flores; ou nunca colocar os pés na água do mar… As belezas da natureza podem estar ao alcance da mão, mas ela se não se estende para buscar tais belezas, para saborear e viver melhor, não experimentará nada.
A santidade pode estar muito próxima da pessoa, mas se ela não desejar ter, viver, experimentar o que é ser santo, nada acontecerá. No caso de José Marello a santidade foi algo quase que natural em seu crescimento: ele sempre desejou fazer o que era certo, o que estava conforme a vontade de Deus. Primeiro, quando era um menino, a vontade de Deus devia ser expressa para ele na vontade de seus pais e avós. Depois, quando já estava no seminário, a mesma vontade deveria ser a de seus formadores e de seus sentimentos nascidos na oração e no diálogo com gente tocada pela graça do Senhor. Mais tarde, como Padre, como fundador dos Oblatos de São José e como Bispo, a vontade do Senhor era compreendida por ele através do povo de Deus, dos seus oblatos, dos pobres, dos idosos necessitados e doentes, dos jovens, dos seus superiores na Igreja. E especialmente na oração. Sim, aqui está um ponto importante. Muitos são os caminhos pelos quais chegam os apelos de Deus e de sua vontade. Mas para descobri-los, ter certeza ou pelo menos entender que aquele é o caminho e sobretudo aceitar os tais caminhos mesmo que impliquem sacrifício, para tudo isto é necessário tempo dado à voz do Senhor na oração.
Tudo Isto é espiritualidade. Isto marcou muitos que conviveram com José Marello Jovem, depois Padre, fundador da Congregação e Bispo.